terça-feira, 27 de abril de 2010

O Enterro do Aterro

• A Ilha enterrada
Quando o governador Colombo Salles concluiu o aterro da Baía Sul, prevendo, para parte da área, ocupação humana, com prédios comerciais, residenciais e amplas áreas de lazer, o saudoso vereador Valdemar da Silva Filho, o Caruso, lançou a campanha: A comercialização do aterro será a morte da antiga Desterro. Milhões de reais foram ali investidos. Outros milhões na contratação do premiado paisagista Roberto Burle Marx.

De lá para cá, nem a prefeitura e nem o governo do Estado deram a mínima para aquele precioso espaço. O projeto de Burle Marx começou, então, a ser esquartejado. Até esta decisão do juiz Hildo Peron, da 2ª Vara da Justiça Federal, determinando a desocupação total do gigantesco estacionamento de ônibus, ninguém discutia o abandono, o mau uso e a morte lenta. A prefeitura não tem uma sede decente. O Ministério Público Estadual busca, desesperadamente, um terreno. E a área nobre vai para a União. A prefeitura, concessio nária, sequer contestou a ação judicial. Os vários prefeitos que governaram a cidade esmeraram-se no improviso.

A Ilha de Santa Catarina tem vocação turística. Mas não sabe valorizar o excepcional patrimônio natural para desfrute da população e dos visitantes. A Polícia Federal tem sede na Beira-Mar. A Justiça Federal ali se instalará em breve. A Receita Federal constrói outro prédio ao lado da Ponte Hercílio Luz, também no aterro. A Secretaria da Educação tem, há mais tempo, um edifício de 12 andares. No primeiro aterro, as áreas foram para o DNOS (hoje Procuradoria da República) e DNER (hoje Dnit e Polícia Rodoviária). No segundo avanço ao mar, os três poderes na Praça Tancredo Neves.
• Improvisação
Nova York tem o exuberante Central Park, onde a população se encontra, onde todos desfrutam do Tavern on the Green e onde se realizam magníficos concertos. Já Florianópolis usou o aterro para instalar uma estação de esgoto.

Vancouver, terceira maior cidade do Canadá e a melhor do mundo em qualidade de vida, oferece o Stanley Park, a atração mais visitada da cidade. Pois Florianópolis usou o aterro para estacionamento de ônibus, automóveis e caminhões.

Porto Alegre oferece o esplêndido Parque Farroupilha, onde a população circula sempre, desfrutando de múltiplos eventos. Já a Ilha-Capital construiu, junto à praia, um sambódromo que fecha a paisagem ou deixa o público de costas para o mar.

A Austrália tem junto ao mar a fascinante Ópera de Sydney, a mais genial obra de engenharia do arquiteto norueguês Joern Utzon. Floripa construiu um centro de convenções aberto para dentro, sem ao menos um restaurante com vistas p ara a bela Baía Sul. Quem já esteve em Londres testemunhou eventos infantis, festas populares e espetáculos culturais no famoso Hyde Park.

Ali, Steve Wonder estará no dia 26 de junho no “show do ano”. No aterro da Baía Sul não se promove nem corrida de patinete. Na Dinamarca, o Parque Tívoli está para a qualidade de vida de Copenhague como Hans Christian Andersen para a literatura escandinava. O escritor, mundialmente consagrado pelos contos infantis, entre eles A Pequena Sereia e O Patinho Feio. O Tívoli, o mais antigo parque do mundo, pelo inigualável conjunto de jardins, lagos, restaurantes, shows, bares, praças e equipamentos de lazer. Quer dizer: os paradigmas espalham-se pelo mundo. O que falta aqui é vontade política, ação comunitária. E, sobretudo, competência para impedir o enterro do aterro na Ilha.

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